Ainda estou aprendendo o que é ser mulher no mundo em que eu vivo.
No meu, pois cada uma tem o seu contexto, a sua realidade, suas dores, alegrias, sonhos e angústias. Ou seria as suas respectivas permissões?
Privilégios também, como eu, tenho muitos. E cicatrizes.
Algumas, simplesmente porque tombei em brincadeiras de criança e muitas outras porque se permitiram abrir feridas em mim e muitas vezes, simplesmente por eu ser mulher. Violências, humilhações, descasos e uma pitada de falta de cuidado.
Cuidar de nós, para quê? Afinal quem cuida de quem cuida?
Ou melhor quem nos enxerga? Quem nos vê?
No dia 08/03/2015 eu me vi. Me vi de dentro. Me vi pulsando. Me vi parindo.
Pela primeira vez, eu que sempre tive tão pouca confiança nesse meu corpo marcado pelos meus caminhos tortuosos, o vi funcionando perfeitamente e sendo capaz.
Me vi potente, inteira e confiei em mim. Eu por mim.
Oficialmente, todo dia 08/03 é dia de celebrar o meu filho com bolo e balões.
E que sorte a minha de ter parido um menino em pleno Dia Internacional da Mulher, para que ele sempre seja lembrado, mesmo que não queira, que onde existe ele, também existe o direito da mulher a vida, dignidade e respeito. E que ele faça a parte dele!
9 anos do dia 08/03… Aprendi a ser mulher, sendo mãe. Não que para ser mulher, tenha que ser mãe, mas porque - eu - precisei me tornar uma, para desistir de quem viria me salvar. Me ver vulnerável, para me ver forte. Cair no poço sem fundo da maternidade - solo - para descobrir que tenho um instinto acirrado de sobrevivência. Encontrar beleza no caos e me encontrar. Ver na imagem de outras mulheres, o acalento que eu precisava e retribuí-lo. Segurar a mão. “Dar a luz” e me permitir.
Mais do que nunca, escolho ir em frente. Entendo que coragem nunca foi sobre não ter medo. Sempre foi sobre não desistir.
Coragem - para a minha mãe, porque gostaria que ela tivesse tido essa oportunidade - para mim - e para todas as mulheres. Aquelas de quem seguro a mão e todas as outras....
Porque dia 08/03 é sim dia de celebrar com bolo e balões a vida daquele por quem sou capaz de morrer, mas lá no fundo do meu peito, para mim: é sempre dia de olhar para nós e no espelho, me ver.